Essa banda tem uma história toda doida.
Os membros de The Monks eram do grupo Strawbs, que fazia um som meio pop-folk no meio dos anos 60 no Reino Unido. Com uma pegada bem “normal” pra época, e umas músicas patriotas tipo Part of The Union, não chamaram muita atenção fora do circuito inglês.
Como sempre acontece, a treta chegou e eles se separaram, dando assim o início à The Monks — três membros do Strawbs e dois novos participantes.
Bad Habits
Não sei se você já fez música, mas é bem engraçado o que sai as vezes em um período de composição livre. No caso deles, saiu… pop-punk. Em 1979 eles lançaram Bad Habits, não só com uma capa sensacional mas também com músicas muito diferentes da carinha de bons-moços da época do Strawbs.
Drugs In My Pocket, por exemplo, tem como protagonista um traficante de drogas:
I got drugs in my pocket
I don't know what to do with them
I've got drugs in my pocket
Am I really through with them?I mean I ask myself, do I really need to be permanently high?
Stayin` awake for hours and watch my life pass by,
Cause I've got drugs in my pocket and I don't know what to do with them
A parte central da música tem até uma rápida troca entre ele e um cliente:
Hey what you got for me today mate? Anything nice?"
"Well I got some upper or I got some downer man or I got some real hard grass all the way from Jamaica to sell in Brixton. Try some of this. "
"All right, I'll have a go, hang on. Cool, that's all right ain't it."
A galera punk true do Reino Unido não gostou nada deles, afinal, eram de uma bandinha bem coxa tentando ganhar dinheiro em um mercado que pulsava autenticidade. The Monks, porém, explodiram no Canadá, entrando no topo das paradas e vendendo uma cacetada de discos.
Esse disco não é o melhor trabalho da banda — o hit é “Nice Legs, Shame About the Face”, então você imagina o teor das letras.
Porém eles ainda acertariam em cheio no futuro.
Suspended Animation
Em 1981, The Monks lança o segundo disco exclusivamente no Canadá. A capa traz novamente a freira — se eles tivessem mais discos, talvez esse tema tivesse se mantido — em um cenário sci-fi.
Indo fundo na comédia, The Monks misturou o pop-punk, reggae, e ska da época em um disco com letras irônicas e sarcásticas. Enquanto fazem piada atrás de piada em “Don’t Bother Me, I’m A Christian”, eles tem um tom todo soturno na música que dá o título ao disco.
Don’t Bother Me, I’m a Christian
As time goes by, people will die to the one they believe in
There is this guy, up in the sky but no one can see him
I am from the mission, of a division, I am on commission!
Can’t walk the street, without some creep tryin’ to convert me
Donate some cash, one lightning flash and then no one deserts me
Make a donation, for yourself salvation! Or it’s damnation!
Fazer piada com religião é o melhor para se conseguir uma morte lenta e dolorosa, ou belas risadas de quem a escuta. Nesse caso, eu sorrio enquanto escuto, do nada, um coral bem católico, fazendo vez de backing vocal no refrão final da música. Vale ouvir.
Hi, have you seen God lately?
Well, I have, and I can show you the way to see him yourself, just send five-thousand dollars cash, cheque or money order payable to The Monks, care of Edifying God foundation, live off code, five-one-three-two-one-four
And if you are not totally satisfied within fourteen days, we will send around God, in person or his son, just to let you know you have been completely ripped off
James Bondage
Bem, não tem muito o que dizer com uma música que tira sarro de James Bond e de BDSM — com direito à paródia do tema de Bond no meio da canção.
Just like Houdini wrapped in chains
I want to be forcibly restrained
You won’t catch me trying to escape
The more it hurts, the more I take
I’m into partial suffocation
I won’t say no to flagellation
I’d love to meet you at the station
But I’m a little tied up right now
Grown Ups
Grown ups, they were never kids
Always saying that we can’t do anything right
Grown ups, they were never kids
They say school is the best years of your life
Além de ser uma sonzera, bem dançante, o som faz uma piada divertida sobre como adultos são CHATOS PRA CARALHO (sim, eu e você também)
I Can do Anything You Like
Pra mim, essa é a masterpiece deles. A música faz piada com muita coisa difícil de brincar na época, como por exemplo a busca das publishers por artistas cada vez mais pasteurizados, porém parte de minorias por puro marketing.
Tem um problema com essa canção: o vocalista imita um indiano. Na hora que ouvi fiquei: ih rapaz, isso tá errado. Mostrei a música pra alguns colegas de trabalho indianos e eles não só adoraram como disseram que é assim mesmo que o UK vê a Índia: como um grande quintal em que eles podem pedir pra qualquer um fazer o que eles quiserem, que eles fazem. “Eles nos veem como macacos treinados”, disse um colega de trabalho, que ficou “pam-pa-tam, pam-pa-tam” o dia todo do meu lado.
Ann Orexia
The Monks afunda o pé na jaca de uma vez com Ann Orexia. Sim, a música é uma história sobre uma mulher que tem “só uma ambição, perder mais peso”, como diz a letra. Por mais que pareça piada com a doença — e, bem, é um pouco — a letra da música vai pra um caminho mais “hey, toma cuidado com isso galera”.
She won’t give in, she must resist
Another name on the doctor’s list
But there’s a fact she might have missed
The perfect shape just don’t exist
Deixa eu colocar meu monóculo, calma aí: 🧐 “The Monks, como o humor britânico, não é para todo mundo”.
Pronto, feita minha afirmação prepotente, posso dizer que vale a pena conhecer The Monks, nem se for pra ter como exemplo uma banda que se apoiou na comédia para fazer sucesso — e, bem, falhou miseravelmente. Suas músicas, no Spotify, não batem mais que 50 mil plays.
É bem curioso como uma banda britânica tenha sido um hit no Canadá como eles foram — lançaram o segundo disco só lá e fizeram tours exclusivos no país. Dizem que foi porque ninguém sabia que eram um bando de bons moços do Strawbs tentando fazer punk divertidinho. A música é uma coisa doida e eu acho que essas histórias peculiares deveriam ser contadas (e é pra isso que eu estou aqui).
Você curtiu The Monks? Achou uma porcaria? Deixe seu comentário abaixo e se inscreva para mais edições musicais da seção Moanin’!