Quanto mais você faz, mais você faz
E um rant sobre a filosofia ser deixada de lado no meu curso de psicologia
Nesta edição double-feature de Cronofobia:
Quanto mais você faz, mais você faz
O descaso com a filosofia
Parênteses e travessões
Festival Boca-do-Inferno
The Substance
Tempo de leitura: 7 minutos
Quanto mais você faz, mais você faz.
Na data que escrevo esse texto, fazem quatro semanas que estou desempregado.
Havia dito para minha psicóloga, uns dias antes de perder o emprego, que talvez eu precisasse de férias. Ela perguntou “mas férias para fazer o quê?” e eu não soube responder. Pensei que, com todo o tempo do mundo, eu arregaçaria em todas as tarefas, moveria montanhas em meus projetos paralelos, tiraria poeira dos roteiros de quadrinho e do rascunho de livro que nunca consegui continuar.
Tolinho.
Há quatro semanas faço só três coisas: durmo, assisto séries, e jogo videogame. O sono da tarde — de tédio — estraga meu relógio biológico. O que pluralizo como “séries” está sendo, basicamente, uma maratona de Star Trek - Deep Space 9. Minha mídia favorita é o videogame, e jogar tem sido uma atividade apática e desinteressante — devo ter começado (sem continuar) uns 5 jogos nos últimos 15 dias.
Minha amiga e sócia Julia lançou essa pra mim em uma reunião sobre nosso principal projeto, a empresa de surubas Positiv. Ela disse, em apenas mais uma de suas sacadas geniais:
Quanto mais a gente faz, mais a gente faz.
Julia Fernandez, 2024
Fiquei assim: 🤯.
Nunca parei pra pensar nisso. Quando trabalhava na Folha, o job mais estressante e agitado que tive, tirei do cu a energia para casar, começar o Tempos Fantásticos, escrever zines, fazer quadrinhos, participar de feiras, ter um canal no youtube e participar de projetos alheios.
Nos últimos meses do meu emprego alemão, trabalhava pouco e não fazia quase nada além de ver o ocasional filminho. Projetos? Nenhum. Criação? Zero. Vida? Triste.
Claro que os tempos mudaram — teve uma pandemia entre esses dois eventos e o mundo tem ido cada vez mais pro caralho — mas percebo que essa pressão realmente existe e que, enquanto antes escrever para a newsletter era fácil e divertido, agora é difícil e cansativo. Tenho certeza que estou me repetindo e em constante síndrome do impostor.
Não estar trabalhando me machuca muito — afinal, em qualquer atividade meu crítico mental grita “você deveria estar produzindo, afinal, precisa prover para sua família”. Se estou fazendo qualquer coisa que não se resuma em mandar currículos à torto e à direito, me sinto perdendo tempo.
Sinto falta de fazer algo que garanta um dinheirinho na minha conta, para que eu possa me cansar fazendo outras mil coisas que não vão me pagar. Parece que é um respaldo: tudo bem criar esse projetinho artístico, as crianças não vão passar fome.
Enfim, essa reflexão vai ficar por aqui mesmo, rasa e sem muitas conclusões. O que você acha disso tudo? Comente aí abaixo ou responda à esse email.
O descaso com a filosofia
Nem lembro se citei isso aqui: voltei à universidade. Curso Psicologia aqui em Mogi das Cruzes — não é o melhor curso mas é perto e eu posso pagar, mesmo sem trampo.
Percebi que a disciplina “fundamentos da psicologia”, que pode se resumir à “filosofia”, tem me despertado novamente o prazer em aprender sobre o pensamento e como a gente formula nossas crenças. O problema? As aulas tem sido muito fracas.
Não culpo os professores, pois ambos devem ser ótimos nas suas respectivas áreas de especialidade. Eles já deixaram claro que eles não dominam esse tema — e ouvi, nas entrelinhas, “não tinha ninguém pra dar essa aula, sobrou a gente mesmo”.
Fiquei triste demais quando tocamos em alguns temas e não nos aprofundamos no mínimo. Lembrei de quando li Apologia de Sócrates, de Platão, e achei fascinante como o discurso pré-morte do cara foi uma aula de argumentação. O professor, talvez por falta de afinidade com o tema, cometeu vários erros ao explicar o materialismo histórico-dialético de Marx e Engels. Chegamos na Escola de Frankfurt e ele nem citou o conceito de Indústria Cultural de Adorno e Horkheimer, o principal conceito.
O que me entristece mais do que isso é que a galera não tem interesse nenhum nos assuntos que eles trazem. Não adianta botar isso na culpa dos professores se os alunos estão cagando pro assunto. É uma desgraça, já que eu acho a filosofia uma das bases principais pra qualquer um que quer entender o pensamento humano e, bem, estamos estudando psicologia.
É esse o rant da vez.
Rapidinhas
Parênteses e travessões
Percebo que, quando escrevo, adiciono vários parênteses e frases entre travessões. Li pela internet que isso é uma característica comum em escritores que tem ansiedade — já que cada pensamento é acompanhado de mais doze vozes diferentes dando opiniões distintas sobre o tema. Nossa cabeça é um mistério, né?
Festival Boca-do-Inferno
Uni o útil ao agradável: domingo (20) fui em meu bar favorito assistir curtas no XI Festival Boca-do-Inferno, organizado por uma pá de gente incluindo minha amiga pessoal Natália Malini, vulgo
. Vi curtas interessantes, outros mais malucos, uns curtíssimos (tipo 1 minuto?) e outros longos. Tinha coisa brasileira, alemã, mexicana, e de outros países que não reconheci. Foi massa demais e fiquei triste de não ter ido nos outros dias do festival. Já vou colocar nos lembretes para o do ano que vem!The Substance
Longe de mim escrever uma crítica para esse filme — se quiser, leia a da
lá no Boca-do-Inferno nesse link. Só queria dizer que sim, eu vi The Substance — que é meio que o hype da vez — e não gostei tanto assim.Mas calma, gente!!! Eu não achei ruim, eu só acho que body horror não é meu gênero. Nas conversas com a Nat, falei bastante que eu amei a história, mesmo que o final tenha ficado meio arrastado, que eu gostei muito mais do ato 1 e 2 do que do 3, e que a única coisa que me incomodou foi o excesso fudido de sangue, bizarrice, e decepação corporal.
Porque eu não teço uma crítica ao filme, então? Pois eu tenho absoluta certeza que eu não sou o público pra ele — não só pelo body horror, mas por vários outros motivos. Luci, uma amiga, disse que no fim do filme, quando um certo peito surge de um jeito… inusitado… ela queria se levantar no cinema e gritar: “não era TETA que vocês queriam? Então TOME TETA!!!!”
Tenho certeza que ele é isso tudo para mulheres, pois várias delas exaltaram o filme pra caralho. Portanto, não acredite no meu julgamento e crie o seu próprio: vá ver The Substance.
Por hoje é só.
Espero que volte na quinzena que vem para mais ramblings e palavras soltas ao vento like tears in the rain.
Eu sinto muitas saudades de umas boas aulas de filosofia. Ou mesmo de ler filosofia, pensar filosoficamente. É uma pena que a quase ninguém tenha mais o interesse.
Luci uma amiga CORRETISSIMA RAINHA MUSA ISSO MESMO