Todo dia penso em desistir de produzir conteúdo. Já tive canal no Youtube, site de resenhas, outras newsletters, podcasts, canal no Soundcloud, e até subi minhas poucas músicas no Spotify esses dias. Acaba que eu não consigo ver retorno em nada do que produzo — e sim, “retorno” é o termo mágico que encontrei, um termo cujo sugnificado não consigo explicar. Minha analista sempre pergunta o que é retorno, exatamente, e essa é a hora que eu normalmente começo a ficar puto com ela.
Queria/quero desistir dessa newsletter. Não dou a atenção devida à ela e tô cada vez mais preocupado com o caminho que o Substack, plataforma que uso para enviar os emails, está trilhando como empresa. Tenho pautas e planos, mas nunca os coloco em prática pois penso que vai ser muito trabalho pra pouco — sim — retorno.
Porém, há algo reconfortante no formato da newsletter: as pessoas só lembram que ela existe quando um email chega na caixa de entrada. Se você não publicar nada, pouquíssimas pessoas irão ativamente se desinscrever. Porém, se você publicar algo que as pessoas não gostam, a chance delas clicarem em “unsubscribe” cresce exponencialmente. Esse fator, unido ao fato de que o Substack basicamente engana muitas pessoas a assinarem newsletters alheias com um dark pattern ridículo, faz com que a melhor estratégia para o crescimento seja… não publicar nada.
No fim das contas, ao invés de colocar minha enorme lista de pautas em prática, eu deixo essa plataforma de molho e escrevo só quando me dá na telha. Isso vai contra todas as regras de crescimento — eu deveria estar escrevendo uma vez por semana, ter um dia e hora marcados para enviar as newsletters, e ficar de olho nos números atentamente para saber qual minha taxa de retenção.
Bicho, I don’t give a flying fuck.
Claro, não crescer adiciona à frustração — afinal, crescimento é parte do tal retorno. Porém, ficar de olho em cada clique, cada novo leitor, cada open rate, é muito para minha ansiedade. Saber que 36% das pessoas que assinam essa joça abriram meu último email me faz pensar em quem vai se dar o trabalho de abrir esse — quiçá lê-lo.
Outra coisa que adiciona à ansiedade é o pensamento que errei em mudar a newsletter para português. Continuo achando que, com meu conteúdo altamente pessoal, não vou conseguir que mais gente leia a newsletter porque não estou conhecendo mais gente que fala português — mas todo dia um anglófono novo aparece. Acordo dia sim, dia não, querendo voltá-la ao inglês e só fingir que a mudança foi um delírio coletivo.
Quando, porém, penso em fazê-lo, penso que esse trabalho não vai dar nenhum retorno e acabo ficando por isso mesmo. Minha lista de pautas — que só cresce para as duas seções, Moanin’ e a falecida Revelry, renascida como À Revelia — continua lá, esperando que um dia eu tome vergonha e jogue as palavras no papel.
Acaba que o pensamento mais constante é: pra quê? Pra quem? Por quê?
Há umas semanas, no grupo do telegram de newsletteiros que faço parte, comentaram sobre o Jardim Digital e eu fiquei doido pra mudar o formato do meu blog pra isso. To até pensando em usar a newsletter como forma de manter as pessoas atualizadas sobre esse jardim — o que escrevi de técnico e pessoal, sobre música, cinema ou games.
A principal ideia é que essa atividade seria para mim, e não para o outro. Porém, com a autoestima microscópica, acaba que fazer só pra mim não vale a pena… não dá retorno. Fica mais fácil fazer nada, continuar na mesma, abraçar a inação e só parar com tudo de uma vez só.
Sei que as pessoas podem ler isso e mandar um “porra men, continue” mas parece um ciclo vicioso, sabe? Parece que eu to dando murro em ponta de faca e a audiência — Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles, disse Jesus, explicando que a audiência pode ser um número minúsculo e mesmo assim conta como audiência — não faz nada para me impedir de continuar tentando sem chegar a lugar algum. Me lembra uma música de 16 anos atrás, de uma banda cujo show vi semana passada aqui em Munique. O clipe tem uma qualidade ridícula de ruim, mas vale o clique:
Counting on my relevant friends
When this keeps coming up again and again
If everybody knows how it's gonna end
Why doesn't someone stop me?
Abri a plataforma hoje, dia 21 de Abril de 2023, às 09h05, em um dia nublado e chuvoso em Munique, na Alemanha, para escrever sobre outro tópico. Mas o que saiu foi isso e talvez era isso o que eu queria ter falado. Tenho fé que não o contagiei, leitor, com meu latente pessimismo — e essa dor de cabeça chatíssima que me acompanha desde às 5 da manhã.
Espero que, ao menos, essa leitura possa ter te dado algo de útil, e que seu investimento de tempo tenha dado retorno — o que quer que isso signifique.
Mano, o mais difícil vc já fez. Começar!!! Eu fico dando voltas e voltas em possíveis projetos e o tal do retorno me faz desistir de tudo. É realmente um saco pensar demais nos porquês da vida. Fazer nada é muito mais fácil. Será que a frustração do não fazer é a mesma do não retorno?
Eu vivo pensando em desistir disso, daquilo, da news, da escrita, do trabalho A, de tudo e de nada. Mas acabo continuando porque sei lá, acho que encontrei inércia no movimento.
Esse papo de retorno é real, eu tô também do grupo que quer ser lido, etc, não consigo fazer as coisas só por fazer, ou pior ainda, só pra mim. Coisa de hospitalidade mineira? De people pleaser? De gay com síndrome do bom menino?
Estive numa mesa na Flights of Foundry um pouco sobre isso, sobre criar pra si ou para uma audiência. E no fim acaba sendo uma mistura, né? E no fim fica o retorno que queremos... que é algo que cada um precisa definir e medir com a sua régua. Mas num projeto pessoal, algo meio "lado B" ou do meu "segundo emprego onde trabalho muito mais por amor que por dinheiro e nem me iludo que um dia poderá pagar minhas contas"... será que cabe tantas métricas?
Pra news hoje eu tento ver de forma mais simples: quero manter meus inscritos, ser lido, provocar conversas, materializar meus pensamentos em palavras (usando a escrita como terapia, mas não espalha). Mas também quero uma sinergia maior entre a news e minha ficção, quero vender livros, né? Então vivo pensando em estratégia, mas no fim das contas a maior parte delas (ou as que provavelmente funcionam) envolve um tempo e energia dos quais não disponho hoje. Em tempos de poucas colheres, a manutenção da vida, o trabalho que paga as contas e evitar grandes surtos me consome.
Enfim, nem sei porque escrevi isso tudo, é um misto de "tamo junto" com "tá todo mundo perdido" e "bora fazer o que a gente dá conta e não surtar".
Abraço!
(vou ler aqui sobre o papo de Jardim que quando vi pela primeira vez passou batido e pode ser o que preciso agora, a ideia de organicidade — por mais artificial que seja — me agrada)