Continuo na jornada de entender o que eu quero escrever aqui versus o que meus leitores querem ler. Nessa edição, faço breves comentários sobre alguns livros que li, um filme, duas práticas, e pergunto ao leitor o interesse em um assunto específico.
Sumário
Tender is the Flesh: canibalismo e insanidade
Feet of Clay: detetives, lobisomens, anões, e autômatos
Atomic Habits: feito é melhor que perfeito
Perfect Blue: que porra foi essa?
Livros sobre business
🍖 Tender is the Flesh
Já chorei, ri, senti medo, e tesão lendo livros. Nunca achei que uma obra literária me daria náuseas. Tender is the Flesh, da autora argentina Agustina Bazterrica, é um livro curto sobre uma sociedade em que um vírus torna a carne animal venenosa para humanos. A sociedade, irredutível em seus hábitos, se volta para a carne humana como possível suplemento alimentar.
Acompanhando um homem que trabalha em um matadouro — sim, de gente —, Agustina nos transporta para aquela sociedade com descrições detalhadas de muita coisa. Sua escrita rápida e feroz não cansa, mesmo com tanto info dump e monólogos filosóficos do protagonista.
Agustina descreve a jornada de uma cabeça — o nome dado aos humanos no matadouro — do encarceramento até a prateleira. O nível de detalhes de cada parte no processo é realmente profundo. Várias vezes precisei parar de ler por conta dos estranhos sons que meu estômago fazia, mesmo curioso com qual seria a próxima cena de horror a ser narrada.
O livro não é para todos — nem sei se consigo recomendá-lo assim, preto no branco, sem grandes ressalvas. Se você tem estômago forte e quer uma experiência literária bem body horror, vá com força. Se aguentar as quase 200 páginas, terá de presente um final que vai te surpreender.
🤖 Feet of Clay
Há quem diga que os primeiros robôs foram os golems judaicos. Eu concordo, as ideias estão todas ali: um autômato controlado por uma força maior — magia e misticismo versus chips e código — que não tem vontade própria… até ter.
Feet of Clay é o 19º livro da série Discword, de Terry Pratchett, e conta a história do meu grupo favorito do seu universo, os soldados improváveis da Guarda da cidade. Se Feet of Clay for copaganda, eu fui atingido — o livro é divertidíssimo, hilário, e intrigante. Pratchett não troca o mistério pela comédia, ele soma os dois em uma emulsão improvável… e de sucesso.
Comecei a ler todos os livros de Pratchett em 2022. Empaquei no 18º — gordofóbico e insosso, não vale a menção — e retornei a leitura agora. Fico feliz que Pratchett não parou no péssimo trabalho anterior, e continuou escrevendo — reparando os errors anteriores. Terry Pratchett é meu autor (morto) favorito.
🔁 Atomic Habits
Enquanto me deleito com ficções distintas, estudo diariamente livros de não-ficção. O da vez foi Atomic Habits, de James Clear. Direto ao ponto, o livro é sobre criação, manutenção, e abandono de hábitos — desde passar fio dental todo dia de manhã até parar de fumar.
Estamos acostumados com alvos grandiosos — perder 20 kgs, correr uma maratona, parar de fumar — e, neles, perdemos a perspectiva do que é possível fazer e acabamos nos frustrando rapidinho. Quem nunca fez academia por algumas semanas e, sem ver o resultado, foi fazer coisa melhor com o próprio tempo?
Eu fiz isso. Inúmeras vezes.
Atomic Habits fala sugere uma mudança de método. Ao invés de colocar um alvo sólido porém frustrante, devemos melhorar apenas 1% por dia. É muito mais fácil de manter o hábito de ir à academia todo dia do que perder 20kgs. O cérebro — esse fanfarrão — também vê as duas propostas de jeitos diferentes, e matar um coelho por dia é muito mais recompensante quimicamente falando do que um leão por mês.
A simples mudança de linguagem — hoje não vou fumar nenhum cigarro vs vou parar de fumar — ligado com pequenas técnicas para unir hábitos bons e evitar ruins — toda vez quando eu quiser fumar um cigarro, vou assistir cinco minutos de vídeos de gatinhos antes — fazem a coisa toda ser bem eficiente.
Recomendo para quem tá maluco da cabeça e não consegue se organizar direito.
🪛 Perfect Blue
Falando em maluco da cabeça… Perfect Blue (Satoshi Kon, 1997) é uma animação japonesa em que acompanhamos a transição de carreira de Mima, uma Idol J-Pop que quer parar de cantar e se tornar atriz.
Tudo parece estar bem até que ela começa a ter umas visões estranhas e um cara bizarro começa a stalkeá-la (esse acento no á e a ênclise de uma palavra em inglês, que delícia). Em pouco tempo, nem Mima nem o espectador sabem que porra tá acontecendo nessa caceta. O filme vai ficando cada vez mais complexo — como a sanidade de Mima — e, no fim, você acha que um caminhão te atropelou.
Assisti Perfect Blue depois de saber que Satoshi Kon foi desacaradamente plagiado por vários diretores de Hollywood — aliás, prática comum essa de pegar animes e animações japonesas e transcrevê-las pra tela do cinema live-action sem dar crédito. Esse filme, por exemplo, é quase exatamente Black Swan (2010, Darren Aronofsky): não só a protagonista se chama Nina, mas também é uma performer que cai na insanidade enquanto a pressão em sua carreira aumenta, fazendo com que ela perca a noção do que é real.
Vale ver, mas se prepare pra sair do filme sem saber bem o que aconteceu.
📊 Livros sobre negócios
Criei um hábito (antes de ler Atomic Habits) de ler 1h por dia de um livro de não-ficção. Por enquanto, busco livros técnicos ou de auto-melhoramento, principalmente se forem focados em gestão e business em geral. Estou com uma lista muito interessante, desde livros interessantíssimos sobre startups, OKRs, e KPIs, até um ou outro que tenho certeza que será uma merda absoluta — estou falando com você, 48 Laws of Power.
Leio esses livros no semi-sigilo — ainda os publico no meu Goodreads — mas nunca fui de trazê-los para cá. A pergunta é: interessa? Vocês gostariam de ler mais sobre esses materiais, meio que do mesmo jeito que eu trouxe o Atomic Habits hoje?
Essa foi mais uma edição da Rapidinha, ex. Quickie. Espero que você tenha gostado. Não esqueça de se inscrever para receber mais atualizações como essas.