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Aposto dinheiros que um dia alguém já te perguntou “qual o seu tipo?” e que você precisou parar um momento para refletir. “Ah, eu gosto de todo tipo de gente”, você disse, e aí alguém mandou um touché e disse “mas 90% das pessoas na sua festa de aniversário têm cabelo cacheado” e você percebeu que sim, você TEM um tipo.
Putz, pessoal demais?
Enfim, a questão é que sim, todo mundo tem um tipo de gosto — para pessoas, comidas, lugares, e música. Descobrir meu tipo ainda é uma jornada, sempre surgem coisas novas que me impressionam, porém descobri através da observação de terceiros que consigo resumir meu gosto musical em três palavras: baixo, tecladinho, e metais.
Com a única intenção de te fazer refletir sobre seu gosto musical de um jeito mais objetivo — e com a intenção secreta de te apresentar bandas fodas — venha comigo em uma breve exploração musical.
Disco surpresa
Já contei essa história mil vezes.
Quando tinha 15 anos ganhei um discman. Um dia, entrei em uma loja de CDs para matar tempo enquanto esperava meu ônibus e vi a capa do disco High Times, do Jamiroquai. Eu nunca tinha ouvido o artista na minha vida mas achei a capa e o nome interessantes, além do disco original estar 10 reais e eu ter exatamente 10 reais + o preço da passagem no bolso.
Comprei sem informação alguma, botei no discman, e dei play sentadinho no banco esperando pelo ônibus (que só passava de uma em uma hora).
Todo o meu gosto musical da época era: metal. Eu tinha cabelo comprido e usava camisetas de bandas, só escutava o gênero (e um Linkin Park escondido). Por qual razão, então, eu estava completamente arrepiado, extasiado, hipnotisado, ao ouvir isso aqui:
Esse disco destruiu tanto minha postura de vilão que todas as músicas dele — sem exceção — estão nas minhas “curtidas” do Spotify. Eu ainda não entendia qual era a razão que ele me pegou de jeito, mas um dia descobriria e tudo faria sentido.
Vamos passear um pouco e voltar para cá depois, venha comigo.
Cãozinho dos teclados
Aliás, falando de metal, nunca fui muito fã das bandas mais populares (e não havia entendido a razão). AC/DC, Guns & Roses, até Metallica (que hoje escuto mais) não clicavam comigo.
Porém, uma das minhas bandas favoritas da época, Angra, trazia algum elemento — que eu não sabia muito bem apontar qual era — que me fazia muito feliz ao escutá-los.
Não era só a bateria com o pedal duplo rasgando, ou as guitarras gritando, ou o vocalista mandando ver bem. Tinha algo a mais ali que eu não entendia na época.
Esse metal melódico farofa era o que eu mais escutava na época, e rejeitava coisas mais pesadas, até me apresentarem a banda que mais escutei escondido dos meus pais evangélicos: Children of Bodom.
(Imagina eles me pegassem ouvindo um CD com essa capa, eles me matariam)
Bem diferente de Angra, né? O vocal rasgado, na época, não era do meu agrado, mas alguma coisa estava lá no fundo fazendo a coisa ficar mais interessante do que só um guitarrista fazendo solos foda.
Além do tecladista mandar um solo a lá Sebastian Bach nos 4:16, a guitarra acompanhava tudo o que ele fazia. Descobri, então, que os dois solavam junto várias vezes. Rest in Piece Alexi Laiho.
Fui coagido por meu pai a fazer aula de teclado, e era a primeira vez que via um tecladista nessa posição, como uma parte integral do som da banda, não só fazendo “cama” ou um acompanhamentozinho — demoraria mais de dez anos pra eu dar atenção pra música clássica e piano.
Quando eu entendi Children of Bodom, eu entendi meu amor por bandas com tecladinho.
Esse amor só continuou quando eu larguei o metal e comecei a explorar mais o vasto universo musical. Na época indie, bandas como The Strokes e Franz Ferdinand não me animavam tanto quanto Ladytron ou Placebo.
Eu não fazia ideia da diferença entre synthpop, britpop, ou qualquer outro gênero da época. Só sabia que eu gostava dessa coisa ali diferente das guitarras bem normais das outras bandas, com baixos bem sem vergonha e baterias simples. O tecladinho trazia algo que eu não conseguia descrever, uma amplitude de timbres e possibilidades que a guitarra não parecia conseguir alcançar.
Um exemplo magno disso é o segundo disco da banda Metronomy, uma obra prima do rock com tecladinhos. Gosto da evolução musical deles, mas sinto muito que eles saíram do caos que eu amava pra uma coisa mais calminha. Fuén.
Hoje sei que uma banda com tecladinhos é uma banda que eu vou dar atenção. Por essa e outras razões que comecei a gostar de música eletrônica, e que era/sou fascinado pela banda desconhecidíssima VETO — que vai ganhar uma edição própria dessa seção da newsletter no futuro.
Baixão nervoso
Entre os discos de música evangélica, Beatles, e Jorge Ben, meu pai sempre carregava com ele discos de uma banda que saia um pouco do seu gosto tradicional. Nunca esqueço quando ouvimos, juntos, em uma viagem de muitas horas de carro — São Paulo para Maceió ou algo assim — o CD By The Way, do Red Hot Chili Peppers.
Caraio men QUE SONZERA. Via esse clipe ad-infinitum na MTV, dançando, e tentando sacar qual era a magia que ele trazia. Será que era Kiedis sem camisa despertando minha bissexualidade inerte? Ou Frusciante e seus backing vocals desperando minha bissexualidade inerte? Ou Flea e sua touquinha branca despertando… bem, você entendeu.
Hoje — já com a bissexualidade não mais inerte — sei que o que me chamava a atenção em RHCP era o protagonismo do baixo como elemento essencial do que eles propunham. Por mais virtuoso que Frusciante poderia ser — mas não era, gênio —, era o baixo de Flea e o jeito que ele quebrava padrões e criava harmonias próprias que me tirava do sério.
Mas não seria honesto comigo mesmo se não colocasse aqui minhas DUAS bandas favoritas de todos os tempos, ambas muitíssimo diferentes, mas que tem um elemento claro em comum: um baixão nervoso.
Interpol, por exemplo, perdeu totalmente a graça quando o baixista saiu da banda. Carlos D poderia ser um trouxa (pelo que internet diz) mas ele sabia fazer um baixo bem desenhado, que tinha uma jornada própria e não era só acompanhamento da guitarra e bateria.
Escute bem como o baixo tá na dele, fazendo a própria linha melódica, em proeminência, sem perder nada pros outros instrumentos. Outro bom exemplo da banda é Evil, com um baixo simples porém protagonista.
Para acabar essa parte sobre o baixo, sente-se confortavelmente, coloque fones de ouvido, e entre em transe com a genialidade de Justin Chancellor, ESSE GOSTOSO.
Assopra que eu gosto
Assim, sem muitas delongas, se você deu play na música acima, sinto dizer que existe uma versão MELHOR do que a própria música original: um cover… com metais.
Vi Brass Against ao vivo e não só fiquei desgraçado de PUTA BANDA COM GENTE DELICIOSA, mas também como metais fazem todos os pelos do meu cu arrepiarem. Caralho bicho, como eles conseguiram melhorar uma música que eu já considero perfeita!?!?!?!?
Uma coisa que me atrai pros metais é o arranjo; Não é só meter uma guitarra e um baixo e acabou, não, você precisa harmonizar o trompete, trombone, tuba, saxofone, tudo em uma colcha de retalhos que ilumina a parte mais escura do meu ser.
Se você não sabe, esse texto está dentro de uma seção da minha newsletter principal (À Revelia). O nome da seção vem dessa música aqui que, bem, é uma zona da porra:
Acho interessante que Mingus é um baixista, mas o que essa música tem de melhor é a loucura completa dos instrumentos — metais, baixo, piano. Parece uma discussão, um desentendimento, uma briga, até que eles começam a se conciliar, dançam um pouco, e voltam pra violência.
Fica difícil não mesclar os tópicos quando a gente tem coisas como Tim Maia em nosso repertório musical. Tá aqui o baixão e os metais, juntinhos, desgraçando tudo.
Para acabar essa parte do texto, jogo aqui uma mescla tão perfeita entre metais e baixo que tem basicamente só isso e uma bateria.
Morphine é uma das bandas mais originais que já conheci. Um sax baixo acompanhando um baixo de duas cordas tocado com slider, tudo isso com um baterista se divertindo muito.
Ah foda-se, toma mais uma do Morphine aí.
Infelizmente Mark Sandman (o vocalista & baixista) morreu, mas a banda continuou como Vapors of Morphine. Tive o prazer de ir no show deles absurdamente chapado e foi uma das experiências mais transcendentais que tive na minha jornada musical — os caras, velhacos, mandando ver sem tirar uma pausinha sequer. Gênios.
Conclusão
Acho essa jornada prazeirosa especialmente porque consigo ficar com os ouvidos abertos pra novas coisas que podem cair nessas categorias. Sei que vou me divertir facilmente em um rolê que tenha uma banda com algum desses elementos bem colocados, e não preciso de muito raciocínio pra entender porque estou gostando de uma coisa e não de outra — ou porque não sou fã de AC/DC, Guns & Roses, e outras bandas guitarrocentricas com baixo em segundo plano.
Sei, por exemplo, a razão de ser tão fascinado pelo trabalho de Knower, a banda que vou deixar aqui como conclusão deste artigo — e amálgama de tudo que falei até agora: baixão, metais, e tecladinho.
VEJA O CLIPE.